quarta-feira, 4 de maio de 2011

IZMAILOV OU UM CASO DE GESTÃO

Izmailov é um dos 3 melhores jogadores do Sporting, em potencial e em valor de mercado, parece-me indubitável.
A forma como está a ser gerida a sua situação pelo Sporting revela pelo menos duas das causas do Clube ter chegado onde chegou: falta de liderança e de capacidade de gestão. Explico:

Factos:
  • Pouco depois da chegada do ex-director para o futebol, Costinha, este envolveu-se num conflito com Izmailov cujas causas radicam em questões de empresários (Jorge Mendes vs Paulo Barbosa, que se estendeu a outros jogadores do plantel como Caneira);
  • Izmailov recusou jogar na jogo da 2ª mão dos oitavos de final da Liga Europa, contra o Atlético de Madrid;
  • Izmailov mentiu ao clube afirmando que se encontrava em Lisboa quando de facto voou para Moscovo;
  • O Sporting aplicou uma sanção ao jogador que este contestou judicialmente com o apoio do Sindicato dos Jogadores;
  • O referido processo judicial foi arquivado por ter sido alcançado acordo entre o Clube e o jogador, tendo este desistido da acção;
  • O jogador tratou a lesão da qual padecia à revelia do Clube, vide afirmações do então treinador Paulo Sérgio e do médico do clube, Gomes Pereira, afirmando desconhecer o paradeiro do jogador bem como a forma como recuperava da lesão;
  • O regresso de Izmailov a Alvalade é contemporâneo com a saída de Costinha, encontrando-se o jogador na fase final de recuperação da lesão e integração no grupo de trabalho;
  • A 26/04 a Sporting SAD comunica à CMVM a renovação do contrato de Izmailov até 2015 com aumento do valor da cláusula de rescisão de 25 M€ para 30 M€, nada se referindo relativamente às condições contratuais do jogador;

Análise:
1.   O valor do jogador nunca esteve ou estará em causa mas o precedente aberto em termos disciplinares com a gravidade que reveste este caso não permitirá a existência de uma relação salutar entre o jogador e a entidade patronal;
2.   Tal servirá de exemplo também para os restantes jogadores do plantel;
3.   Com a agravante que o jogador viu o contrato renovado e a cláusula de rescisão contratual aumentada. Não teve melhoria salarial? Fica a questão.
4.   O foco da questão é este: há lastro anímico (endógeno, de cada um dos jogadores) e relacional (entre grupos que se foram formando no plantel) que deriva das experiências traumatizantes que todos têm tido e quando essas experiências alcançam uma determinada amplitude, uma determinada gravidade como agora se verificou pelos factos acima descritos, atinge-se um ponto de não retorno;
5.   O que resta? A difícil tarefa de quem lidera assumir que se deve inverter o rumo, dar o exemplo e não permitir que, independentemente das responsabilidades concretas, o Sporting se faz respeitar relativamente a todos, funcionários ou interlocutores externos, com todos os custos que tal envolva porque no futuro (aqui entra a gestão) tal trará inevitavelmente proveitos, quanto mais não seja no amor próprio, na dignidade, no respeito interno e para o exterior, na manutenção de um registo disciplinar interno que se quer integralmente cumprido sob pena de se ser complacente com manifestações de má formação e educação como as vistas no jogo com o Portimonense que só prejudicam uma entidade: o Sporting Clube de Portugal;
6.   E Izmailov? Haveria que encontrar uma solução pacifica para ambas as partes, com dignidade, com o respeito possível atenta a conjuntura envolvente e tratar de transferir o jogador para um clube sempre no exterior, com as mais valias possíveis e reinvestir esse valor noutra solução desportiva acautelando que quando se contrata um jogador se contrata também o Homem, o seu empresário, etc;
7.   O Sporting precisa mudar de página, de uma renovação de fundo, exactamente na mesma lógica da renovação de ciclo quando uma equipa portuguesa consegue o milagre (lá está) de ganhar uma prova europeia. É que neste caso, pela positiva, os jogadores ganham grande visibilidade, há a possibilidade de fazer excelentes contratos e o clube português que, recordo, está (sendo optimista) no meio da "cadeia alimentar" em termos de competitividade financeira no ranking europeu, pode alavancar meios para renovar a equipa sem ficar com insatisfeitos ou aziados; 
8.   No caso do Sporting, manifestamente até pela saturação da massa associativa, a azia está do lado de cá das bancadas e a manutenção da maioria dos jogadores, independentemente do valor deles, é um erro estratégico porque se vai andar a tentar construir sobre algo que de raiz, reitero, não é salutar no sentido de estar despoluído do tal lastro anímico e relacional e das memórias negativas. Ao mínimo falhanço, lá vêm as memórias... 
9.     Há que ter coragem de fazer de novo e manter apenas aqueles que podem ajudar a construir o futuro integrando mesmo alguns deles os alicerces dessa estrutura, como o Patrício (até pela perspectiva da titularidade na selecção e um factor nuclear que o Sporting não devia perder e que o Porto e o Benfica já não têm: preservar a maioria dos jogadores portugueses de qualidade como factor identificativo com o País e os Jovens que procuram um Grande!);
10.  E nisto, a perspectiva não é apenas render mais, é sim render ao nível compativel com a história do Grande Sporting Clube de Portugal!  

Luis Rasquete

terça-feira, 3 de maio de 2011

A CONTRATAÇÃO DE ANDRÉ CARRILLO

Factos:

Nome: André Carrillo;
Clube: Alianza Lima (Perú);
Idade: 20 anos;
Altura: 1,80;
Peso 69Kg;

Jogos na 1ª Liga:
5 jogos/ 6 jogos do campeonato
3 vezes titular e 2 totalista;
1 vez substituido e 2 vezes suplente utilizado;
3 golos/ 1 assistência;

Valor de mercado: +/- 500 mil €;

Perú tem escassas participações em campeonatos do Mundo;
Clubes peruanos não têm expressão a nivel de conquistas de competições sul-americanas;

Análise:

Trata-se de um jogador que não vale o 1 M€ por 85% do passe que o Sporting se apresta para pagar a menos que haja dinheiro significativo em caixa para fortalecer o plantel (nunca menos de 40M€) e explico sucintamente porquê:
 
1.   Vem de uma liga menor na América do Sul, pelo que nem sequer tem o ritmo competitivo das maiores ligas dali (Brasil, Argentina, Uruguai). Conclusão: requer tempo de adaptação ao futebol europeu como todos os outros mas sobretudo de um upgrade significativo pois a discrepância entre o futebol europeu, no caso o português, e a Liga do Perú é significativa;
2.   Parece-me ter algum potencial, pois possui jogo aéreo, pé direito mais forte, pareceu-me rápido, robusto, movimenta-se bem na área mas é claramente um 2º avançado que não gosta de jogar nas alas (segundo afirmação do próprio). Não é lider, mas com esta idade e em fase de integração no futebol mais competitivo da Liga do Perú é natural que assim seja. Não é titular absoluto. Pelo que descrevi,  se no Perú não se destaca desde já claramente, sentirá maiores dificuldades quando chegar ao futebol europeu;
3.   Relativamente ao investimento de 1 M€  por 85% do passe, está inflaccionado alegadamente pelo interesse do Groningem e da Atalanta, mas reveste claramente o tipo de negócio made in Duque/Freitas, se olharmos para o histórico destes dois dirigentes; 
4.   Sobretudo, em termos de lógica de politica de mercado o que questiono é o que se pretende com a contratação de um jovem que precisa claramente de uma estrutura forte de enquadramento que o proteja, que lhe permita crescer sem pressão ou cobrança. Ora, o Sporting não tem essa estrutura ao nível de equipa e a contratação de um jogador deste tipo passa uma mensagem clara para os miúdos da formação: rouba-lhes espaço na 1ª equipa e eles provavelmente terão mais qualidade e de certeza mais ritmo competitivo que o André Carrilho porque não se trata de um predestinado, não obstante o potencial que poderá ter (o que não considero claro pois há jogadores dentro da idade dele (20/21 anos) que já estão na selecção "A");
5.   Finalmente, vamos colocar aqui um exemplo em termos de mercado: Será um bom investimento para um Fundo ou para ser rentabilizado? A resposta é clara e simples: Não! Este jogador pertencerá sempre a uma selecção que está fora dos grandes palcos competitivos a nivel mundial e é, sobretudo ao nivel do pedigree, uma selecção de pouca ambição. Tal repercute-se na forma de pensar do jogador que terá sempre horizontes limitados por não estar habituado a momentos como finais ou sequer perspectiva delas e consequentemente, no momento de pressão em que o clube precise dele para "fazer a diferença" o provavel é que não expresse o seu valor, precisamente pela falta de hábito dos grandes momentos. Ao nível do desempenho no clube, perspectivando de forma optimista que o Sporting aumentará os indices competitivos, ele dependerá sempre da experiência de outros ao nivel de grandes palcos para o integrarem e não o inverso e o seu valor dependerá sempre da visibilidade que o clube lhe der e não da que ele obtiver por si (nomeadamente na selecção).  Ora, a este nível um jogador que só se valoriza no clube e não na selecção, tem sempre alguma limitação em termos de valor final para os clubes das ligas maiores. Acresce finalmente que, sendo peruano, tem fracos exemplos de vencedores na Europa sendo o mais conhecido o Pizarro que fracassou quando passou para a liga inglesa (Chelsea) por falta de pedigree e se aguenta no mercado alemão apesar da fraca carreira do Werder Bremen esta época. Outros exemplos são o Guerrero (Hamburgo), Farfan (Shalke) que é o melhor jogador peruano da actualidade mas irregular nas performances e o Vargas (Fiorentina) sendo este talvez o mais competitivo dos jogadores peruanos. Em Portugal temos o Rodriguez e veremos o que ele faz numa equipa mais forte que o Braga, presumivelmente em Alvalade porque o Porto não o quer (eles saberão porquê...). Em suma, nenhum jogador peruano actua na 1ª linha das equipas da Europa e mesmo o Shalke, que se encontra fugazmente na meia-final da Champions, não é campeão alemão há vários anos.

Luis Rasquete