segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SPORTING x LAZIO E A AULA DE FERRAN SORIANO

No mesmo dia em que O Sporting bateu a Lazio por 2-1 num jogo que foi emocionante, com grande ambiente e, no seu melhor, expressou o crescimento da equipa enquanto grupo unido e motivado para um objectivo, um fazedor de campeões deu uma conferência em Alvalade.

SPORTING x LAZIO

Importa reter que a equipa cresce de jogo para jogo (repete-se o "onze" ainda que com ligeiras alterações e surgem os automatismos), a defesa está mais equilibrada por via da qualidade dos dois laterais e porque Onyewu tem vindo a ganhar ritmo de jogo. O norte-americano é praticamente intransponível no jogo aéreo mas já não é tão rápido como era antes da grave lesão sofrida quando representava do AC Milan. Haverá que valorizar o que de bom tem e tentar mitigar as suas fragilidades que se tornam bem evidentes quando a equipa perde a bola na 1ª fase de construção ofensiva e sofre um contra-ataque rápido.

É no centro da defesa que este Sporting vai provar se tem ou não capacidade para atingir patamares competitivos que não alcançou nas duas últimas épocas. Entre Polga e Rodriguez o ganho ou a perda não é significativo e não pondo em causa o profissionalismo de qualquer deles, parece óbvio que não apresentam condições para os objectivos a que o Clube se propôs no inicio da época. Estivesse no plantel um tal de Nuno Reis e a conversa seria certamente outra. O futuro encarregar-se-á de provar o valia de um jogador que já é, na opinião do signatário, um dos cinco melhores centrais portugueses.

No meio campo "ideal" estão, sólidos, Rinaudo atrás e Schaars e Elias mais adiantados. Não é um meio campo muito forte fisicamente ou forte no jogo aéreo mas representa grande evolução face à época transacta. Se o argentino é forte no processo defensivo pelo chão, terá que evoluir bastante no momento da transição ofensiva pois a demora no passe e a ideia de correr com a bola nos pés no primeiro e segundo terços do campo não é compaginável com a ideia de um futebol actual, inteligente e eficaz. Independentemente de se tratar de um momento de posse ou de aceleração do jogo não pode Rinaudo dar-se ao luxo de dar mais que três/quatro toques na bola nesta fase. Há que pensar rápido e executar ainda com maior celeridade.

Ora, rapidez de pensamento e execução caracterizam Schaars e Elias (ontem Matias demonstrou que dificilmente se adaptará algum dia ao futebol de alta competição, independentemente da sua valia técnica). Na fase defensiva ambos pressionam alto e de forma concertada e na fase ofensiva expressam uma qualidade impar em termos de inteligência e eficácia. Com eles, fazer chegar a bola ao último terço do campo é bem mais fácil, mais artístico e, sobretudo, mais eficaz. Resultado, criam-se mais oportunidades mas também se obtém maior aproveitamento. Relativamente a Schaars, ao contrário do que a maioria pensa, estamos perante o verdadeiro líder da equipa, simplesmente porque é aquele que mais procura a bola quando se trata da fase de construção, melhor bate as bolas paradas, maior capacidade tem de marcar ritmos ao jogo, maior coragem apresenta nas opções de risco como seja a verticalização do jogo. O que não é de estranhar porque este jogador mereceu, ao longo da sua carreira, a confiança do lançamento consistente por Van Gaal num ano em que o AZ Alkmaar foi vice-campeão (2006-2007), a honra de capitanear o AZ Alkmaar quando venceu o titulo em 2009 (ainda com Van Gaal) e assim perdurou (não obstante a grave lesão sofrida) com Co Adriannse. Na selecção, quando Van Basten chegou e quis disciplinar hábitos e quebrar rotinas instituidas e lugares garantidos, Schaars mereceu a confiança do jovem técnico e nunca defraudou, até hoje. Com um curriculum vitae deste nível, difícil seria que Schaars não se impusesse naturalmente pelo profissionalismo, força de carácter e qualidade de jogo. O tempo permitirá a Schaars deixar uma marca ao nível da deixada por Stan Valckx que também começou a sua carreira no Sporting com muitos ilustres "conhecedores" a desdizerem das suas capacidades.

Na frente também um holandês, Ricky van Wolswinkel, se vai impondo mas atenção, estamos a falar de um jovem de 22 anos (Schaars já tem outra maturidade com 27 anos e vários campeonatos nas pernas) que vai ter várias oscilações de rendimento, naturalmente. Mas os fundamentos, os princípios elaborados de jogo, a cultura tática está lá e nenhum movimento é feito ao acaso. Daí o surgimento natural dos golos, a razoável eficácia que já demonstra. A companhia de um extremo de raiz, também jovem, também oscilante no seu rendimento, Diego Capel, que se afigura como um excelente municiador dos movimentos de Wolswinkel na área por também ele ser um jogador com toda a escola de formação por Espanha. Finalmente, na direita para já, um também oscilante Carrillo (ainda muito débil em termos tácticos), na ausência de Izmailov (se voltar e quando voltar já a época irá adiantada, no que se traduz em mais um erro de gestão conforme oportunamente aqui se expôs) e de Jeffren, esse sim, o grande ala que muito promete quando voltar em pleno. Este reúne duas qualidades, escola de formação nas selecções de Espanha e, sobretudo, escola do Barcelona. Esta última, como se vê pelo exemplo de Nolito, na luz, vale mais que qualquer outro cartão de visita...

O que permite fazer a transição para a parte mais importante deste artigo: FERRAN SORIANO.

Veio a Lisboa o autor do livro "A bola não entra por acaso" ser entrevistado por dois fracos interlocutores na área da gestão desportiva (João Duque e Nicolau Santos, que todo o respeito merecem nas respectivas áreas de actuação mas podiam e deviam declinar convites para estes temas) o qual expressou as seguintes ideias-chave:
 
1.   A gestão do futebol é gestão de emoções, a fidelização é um pressuposto, pelo que o dificil é racionalizar a gestão, o que o torna em algo muito diferente de um mero "negócio";
2.   Os clubes não existem para lucrar financeiramente com a indústria ao contrário dos restantes intervenientes como jogadores, técnicos, media, empresários, etc;
3.   A hierarquização e segmentação de funções são princípios de gestão dos quais nunca se pode abdicar;
4.   Portugal não está (nem alguma vez estará) na 1ª linha do futebol europeu em termos de poder financeiro e, sobretudo, competitividade, pelo que tem que capitalizar as suas forças e aproveitar as oportunidades que tal proporciona, mitigando as fraquezas e antecipando das ameaças, transformando-as também em forças;
5.   Concretizando o ponto anterior, nomeadamente a formação e a expansão para mercados inexplorados são duas vias abertas ao dispor do Sporting, que até detém história e curriculum nestas áreas (ao contrário, por exemplo, do Chelsea, conforme Soriano mencionou).  

Curiosamente, o Sporting, alguns minutos depois iniciou o jogo com a Lazio utilizando 1 jogador da formação (Rui Patricio) e 2 portugueses (Rui Patricio e João Pereira). O Sporting Clube de Portugal realmente ganhou???

Luís Rasquete