segunda-feira, 8 de outubro de 2012

MAIS DO MESMO - A CONTINUIDADE

Ponto prévio 1: As últimas eleições no Sporting estão há muito encerradas, de facto e de direito. As listas e candidaturas há muito que acabaram, o que interessa é discutir o clube, no seu presente e perspectivar o seu futuro.
Ponto prévio 2: O Presidente do Sporting tem méritos na forma como após as eleições fez por unir os Sportinguistas, como tentou e tenta reorganizar o clube, e, principalmente, no seu trabalho na procura de novas parcerias e investidores, sem os quais o Sporting, tal como o conhecemos, pode deixar de existir.
Um ano e meio depois das referidas eleições, a SAD vai para o seu terceiro treinador (não contando com Couceiro e Oceano), adquiriu quase 30 novos jogadores, por mais de 40 milhões de euros.
Não se vendeu um único jogador com mais valias, pelo contrário, alguns ficaram livres, sem qualquer retorno para o Sporting.
Os resultados desportivos foram e estão a ser dos piores de que há memória.
A continuidade de que tanto se falou é, pois, manifesta: Continuidade nas pessoas, continuidade no projecto (mais concretamente, na sua ausência), continuidade nas (más) ideias, continuidade no descalabro financeiro e continuidade na ausência de títulos desportivos.
Quando é que tudo começou? Até quando pode esta situação durar?
A célebre auditoria tem todos os dados: Os factos, os valores, as datas, os dirigentes, as contratações, as vendas, o património. Uma auditoria de gestão está ao alcance de qualquer um, basta tirar as conclusões dos dados evidenciados.
E a conclusão só pode ser uma: BASTA!
Temos de mudar de rumo!
Não podemos continuar a ter à frente do futebol gente que é responsável por largas dezenas de contratações sem qualquer retorno financeiro e escasso rendimento desportivo.
Não podemos prosseguir – como o temos feito nos últimos 12 anos - em “investimentos” que superam em 20 milhões/ano a receita disponível, pois esse investimento não tem qualquer retorno (a título de exemplo: Na época de 2011/2012 investiu-se mais de trinta milhões mas o retorno foi um aumento de 2 milhões nas receitas).
O mundo mudou, há países, empresas, clubes falidos. Nenhuma empresa pode apresentar resultados como os da SAD e clube e viver muito mais tempo neste mundo.
Não é, de todo, expectável que neste clima recessivo, com a época desportiva quase hipotecada, que as receitas aumentem em 40% de um ano para o outro.
Tal como o país, temos é de cortar fortemente as despesas e não tentar aumentar as receitas.
Há exemplos a seguir como o do Borússia de Dortmund, há uns anos falido, optou por gastar apenas o que tinha, apostar forte nos jogadores da sua formação. Os sócios, os investidores, a banca, todos perceberam, apoiaram, hoje é a equipa bi-campeã da Alemanha, com a maior média de assistências da Europa.
Os nossos sócios não são estúpidos, percebem se houver um desígnio, um projecto, um rumo, e terão (ainda mais) paciência. Aliás, a ideia não é, de todo, nova, foi assim que começou o chamado Projecto Roquete, o qual, quando presidente, chegou a pedir 2 ou 3 anos.
E porque falhou o Projecto Roquete? A (boa) ideia inicial era construir uma academia com vista a potenciar o reforço da equipa principal com jogadores da casa. E trazer as regras da boa gestão de empresas para o universo Sporting.
Ora o que se vê é cada vez menos jogadores da casa e cada vez mais jogadores que assinam pelo Sporting para aqui acabar a carreira, ou para tentar começar a mesma, sendo o clube um mero trampolim para outras paragens.
Pelo meio, queimam-se jovens jogadores, trituram-se treinadores, afastam-se os sócios. Com o fosso que se cava para Poto, Benfica e até Braga, em breve também se afastarão os investidores, patrocinadores e demais parceiros.
E nenhuma empresa pode ser gerida como a SAD.
A SAD é um mero instrumento jurídico do Clube, que detém a esmagadora maioria de capital da mesma.
E o momento que vivemos não é uma questão interna da SAD. É um momento em que se discute toda a estrutura da mesma, e, como tal, o clube, os seus sócios e dirigentes terão sempre uma palavra a dizer.
Os sócios terão sempre o direito de criticar, os dirigentes visados terão de saber ouvir as críticas e, se necessário, emendar a mão, e os restantes dirigentes não podem - sob o falso pretexto da unidade (que é muitas vezes confundida com unicidade) – deixar de defender o seu clube, em nome do seu amor clubístico, da sua história, da sua consciência e dos sócios que os elegeram, pelo contrário, a sua responsabilidade é, nesta matéria, acrescida.
Não há, pois, SAD sem clube, como não haverá clube sem SAD.
É, pois, altura de concentrar todos os esforços na SAD, revolucionar a mesma, por ser o core business do clube.
Luís Duque e Carlos Freitas foram os pesos pesados de uma lista que teve os votos que teve muito por sua culpa. Os sócios do Sporting votaram nessa lista convictos que tinham um grande gestor de activos (quase 90 contratações sem qualquer mais valia financeira para o clube) e alguém influente nos meandros do futebol (o que, a ser verdade há 12 anos, hoje não tem qualquer relevância, o “sistema” permanece intacto, requintado mesmo, agora com a marca da impunidade após o rotundo fracasso do “apito dourado”).
Confundiu-se, confunde-se, uma base de dados e contactos com alguns empresários com uma gestão eficiente de activos, com um projecto próprio assente numa identidade e mística, o qual devia ter por base a nossa maior riqueza, a academia!
Confundiu-se, e confunde-se, pseudo-influências no sistema instituído e experiência alicerçada num título alcançado há 12 anos, com um projecto em que o Sporting devia delinear, promover e liderar um projecto de renovação e transparência no desporto português e no futebol em particular!
Espero que o Presidente do Sporting o entenda e tenha a coragem de mudar de rumo. Caso contrário, os pesos-pesados que contribuíram para a sua eleição vão ser os mesmos que o vão arrastar a si e ao clube para o fundo, sendo que os mesmos são especialistas em manter-se à tona, sempre disponíveis a abraçar novos projectos…

SPORTING SEMPRE!

RM